Hoje, dia 2 de abril de 2017, fui finalmente assaltado e levaram meu celular. Bem, vou contar em detalhes a respeito do que eu lembrar do que houve…
Em primeiro lugar, acordei muito cedo e fui pra parada de ônibus, faltava ainda algo em torno de meia hora pra dar 5 horas da manhã no domingo, dia 2 de abril de 2017, um pouco antes de 5 horas da manhã e no meio do caminho até lá, uma coisa totalmente inacreditável, espantosa, incrível, (não sei outro sinônimo, mas acho que ainda não era nenhuma dessas palavras que eu queria usar, mas fiquem com essas aí, deve ter dado pra entender a ideia) aconteceu: uma mulher simplesmente me parou e perguntou, quase amigavelmente, mas tentando forçar alguma sensualidade na voz: "vamos transar?” (notem que não era mais primeiro de abril). Fiquei meio sem saber o que falar, mas rapidamente falei que não podia por estar muito apressado, sendo que meu único compromisso seria dali a 3 horas.
Cheguei à parada de ônibus e nenhum ônibus havia passado ainda, então fiquei conversando amigavelmente por algum tempo com uma mulher aparentemente bêbada, até que chegou meu ônibus… Ele não estava tão vazio quanto eu imaginei que estaria pra uma primeira viagem de domingo, mas consegui sentar nesse primeiro ônibus do dia, apesar de já ter um número considerável de pessoas. Coloquei meu fone e dei play com ele. Fiquei ouvindo minhas músicas e fazendo o treino que sempre gosto de fazer: lembrar o nome da música e artista o mais depressa possível. Até que…
Em um momento da viagem, não mais que 10 minutos depois que entrei no ônibus, vi um homem grande pulando a "catraca". Era óbvio que seria um assalto. Tentei esconder o telefone, mas foi em vão, já que estava usando o fone de ouvido. Ele foi direto até mim e mandou eu dar o celular. Eu daria de todo “bom grado”, mas a Esclerose múltipla parecia querer me lascar. Acho que meu cérebro não conseguiu captar a REAL necessidade de acelerar e fui muito lento na minha tentativa de tirar o celular do bolso, o que fez o assaltante me espancar. Me deu muita porrada na cabeça, sendo algumas no rosto, mas como eu não sentia dor nenhuma, sei lá como, continuei a tirar no meu tempo.
Quase que eu falava “me processa, se quer que eu seja mais rápido” ou “aproveita e leva a minha Esclerose Múltipla, que assim fico mais rápido", mas, nesse caso, provavelmente eu teria deixado de levar só murros na cara e cabeça e seriam tiros, então só fiz o mais depressa que pude, apesar de isso não ter agradado muito o assaltante. Felizmente(?) ele simplesmente tirou minha mão do bolso e puxou o celular com toda a fúria que suponho ser peculiar vinda de um assaltante, não lembro se depois disso simplesmente foi assaltar outras pessoas. Até esse ponto, findou-se que fiquei sem meu maior companheiro de viagem e que mais me ajuda na esclerose múltipla, com os jogos de raciocínio que havia nele. Mas deixem-me prosseguir…
Logo depois desse assalto, a maioria das pessoas que estava dentro do ônibus ficou enfurecida e queriam que o motorista prosseguisse a rota, mas como o assaltante apontou uma faca em seu pescoço e ele estava, obviamente, se sentindo extremamente mal e em choque, seria difícil demais pra ele. Uma senhora que estava sentada ao meu lado estava chorando desesperada, provavelmente por todos os socos que me viu levando. Eu ACHO que a senhora ao meu lado não apanhou. Fiquei segurando e fazendo carinho em sua mão, dizendo que ia ficar tudo bem. Não adiantava nada se desesperar. Aprendi isso com o Guia do Mochileiro das Galáxias e é verdade. Mas voltando…
O motorista estava se sentindo extremamente mal, mas levou a mim, o cobrador e um rapaz que perdeu um colete balístico para um posto da polícia que fica razoavelmente perto do local onde ocorreu o assalto. Pena que lá chegando, estava fechado, só sei que de repente eu estava no distrito policial com alguém nos atendendo (não sei se fomos pra um lugar longe e eu simplesmente esqueci de como aconteceu pra que chegássemos até lá ou se só não tinham aberto ainda e abriram na hora que chegamos e viram um ônibus na garagem da delegacia, sem contar que isso nem é tão importante assim nesse ponto da história. O que importa é que fomos atendidos e fizeram nossos boletins de ocorrência por lá. A parte mais chata disso tudo é que eu estava prestes a evacuar desde que vi o assaltante pular a catraca e não sei como eu estava conseguindo me segurar até aquele momento.
O motorista perguntou pra onde eu queria ir, se voltar pro residencial onde moro ou se continuar a viagem, e por não saber exatamente o que eu queria fazer, disse que queria continuar a viagem e como passou outro ônibus da mesma linha naquela mesma hora, o motorista fez sinal para que eu descesse e entrasse nesse outro, pena que nesse outro eu não tinha qualquer lugar pra sentar, senão no chão, mas segui o caminho enquanto pensava no que fazer e tentava não ter outra incontinência fecal como outrora.
Cheguei a um ponto da viagem onde eu talvez conseguisse ir caminhando até a casa da minha mãe pra que eu pudesse finalmente defecar. Chegando lá, bati palmas pra ela abrir a casa pra mim e quando ela abriu, eu simplesmente dei meu boletim de ocorrência pra minha mãe e entrei, indo direto ao banheiro, sem falar nada. Depois do meu ~trabalho realizado e eu ter saído do banheiro, aconteceu algo totalmente maravilhoso pra um dia tão ruim: minha mãe estava somente preocupadíssima comigo e em momento nenhum quis me culpar por ter sido assaltado, como tenho certeza que muitas pessoas fariam ao ler este relato, como se a culpa de ter sido assaltado não fosse unicamente dos assaltantes em quaisquer situações. Foi a única coisa boa que me aconteceu, isso de eu não precisar ter tido preconceitos de como seria tratado. Depois de lá, minha mãe me levou a um hospital e depois de que saímos do hospital, ela comprou algumas coisas para que eu levasse pra casa.
Sabem, depois de todo o ocorrido, cheguei em casa e fui recebido com o sorriso e carinho da Tt. A Paula não sabia que eu havia sido assaltado, então também estava toda sorridente quando abriu a porta pra mim. Estou bem e, embora sinta falta do meu celular, tenho preferido pensar em coisas que não perdi no assalto. Minha família.