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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SETEMBRO: Novidades, felicidades, independência, Fingolimode, minhavida em um ano...

Olá, amigos, sei que estou a MUITO tempo sem publicar textos e peço perdão para todas as pessoas que acompanham o blog e ficaram esperando ansiosas o próximo texto que mais parecia "estar vindo de joelhos". Nas últimas semanas várias coisas aconteceram e deixaram minha cabeça esclerosada borbulhante:

1. Caminhei 10Km ou mais das 10h às 14h, com um carrinho de mão, sem protetor solar, sem dinheiro e sem água pra beber no meio do caminho. Felizmente, o clima estava favorável e no dia faziam uns 36' ou 38' sem qualquer mínima brisa, quanto mais vento;
2. Conversei com a Marina Mafra sobre o porquê de eu ter muita perda de memória. A minha médica explicou que, no meu caso, é por causa da atrofia do meu cérebro que acontece de forma exacerbada e no meio da conversa vimos que isso dava um texto;
3. Escrevi um texto sobre como a minha sogra influencia no meu tratamento e de onde a Paula tirou tanto amor por mim...
4. Escrevi um texto pra minha mãe depois de ela quase me atropelar;

Tem também as novidades no blog:

1. Agora, vocês podem comentar usando o Facebook. MAS como o aplicativo ainda não funciona bem, eu não recebo as notificações. Então, me adicionem no Facebook e quando comentarem me marquem ou marquem a página do blog pra que eu veja o comentário de vocês e possa responder;
2. O blog agora tem abas super legais que vocês podem clicar e acessar textos especiais que fizemos pra vocês;
3. Adicionei nesse mês um banner muito legal do canal da AME e eles tem um programa muito lindo chamado "Qualidade Vivida", assistam ao vídeo que a Paula Kfouri e o Gustavo San Martin falam a respeito, não dá pra não se emocionar:



Nesse mês completei um trimestre usando Fingolimode. É PRA GLO-RI-FI-CAR DE PÉ. ÊÊÊÊÊ! Pra contar toda a transição, resumi um ano todo, de setembro de 2014 até setembro de 2015:

Já era pra eu ter começado a usar o Fingolimode desde janeiro ou março desse ano, mas em setembro de 2014 a minha mãe começou com um negócio de dizer que os remédios que a médica prescreve só fazem me intoxicar. Então, ela me mandou pra clínica REVISAM pra "desintoxicar e ficar curado ou 90% curado da EM". Achei estranho os tratamentos e mandei a Paula perguntar da mulher o que é Esclerose Múltipla, a mulher não soube o que responder e disse que a Paula "só quer palco", depois disso eu não quis ficar com uma mulher que nem sabe o que eu tenho, a minha mãe surtou por causa disso e começou a espalhar que a Paula só quer me matar e por isso a Paula me fez sair da clínica REVISAM.

A real é que eu e a Paula já tínhamos conversado com a médica sobre a possibilidade de iniciar o tratamento com o Fingolimode. Desde setembro de 2014, eu já não precisava mais tanto da minha mãe para as consultas médicas, eu tenho a Paula que me acompanha desde março de 2014 nas pulsoterapias que tive que fazer, ela sabe minha rotina, necessidades e dificuldades. Minha mãe baniu a Paula da casa dela e eu saí junto com ela que cuida de mim bem melhor que minha mãe.

Então, fui pra minha casa, que estava cedida para um primo que não soube fazer planejamento familiar, e nela não tinha geladeira, por isso, atrasei muito pra iniciar o Copaxone, comecei a administrar o Copaxone em fevereiro de 2015, 5 meses depois do tempo esperado. A minha médica é a melhor do mundo e pediu uma internação pra facilitar os exames necessários para o Fingolimode. Deu tudo certo e em 5 dias fui liberado, meu corpo estava perfeito. Depois, passamos uma semana tentando contato com a PACO e nada de conseguirmos, felizmente, a Paula sabia como aplicar porque já tinha lido muito a respeito do remédio, ela adora ler bulas de remédios que eu possa um dia vir a usar.

A Paula aplicava as injeções do Copaxone em mim assim que chegava do trabalho e sempre anotava se eu me sentia mal ou algo do tipo. Nesse período, ela decidiu iniciar um processo fofo que era basicamente pra eu não me estressar nunca, porque assim evitaríamos alterações cardíacas e poderíamos continuar tentando o Fingolimode. Me afastei de alguns familiares, mas principalmente da minha mãe e vivi os melhores dias de minha vida até então. Tudo deu certo e iniciei a administração do Fingolimode em junho de 2015.

Vamos lá: em três meses usando o Fingolimode, consegui controlar os meus esfíncteres com muito mais eficiência. Minha memória tem melhorado e me sinto muito mais disposto. Reclamo pouquíssimo de fadiga ou dor no corpo. Meu andar melhorou e só ando estranho quando estou muito, MUITO cansado.

A liberdade de poder acordar, tomar o remédio e saber que depois dele eu posso caminhar e me mexer "normalmente" me dá uma sensação de autonomia indescritível, que eu não sentia desde muito antes do diagnóstico. Poder sair com meu remédio na bolsa e não precisar voltar pra casa em tal hora por causa do remédio é um sentimento libertador. Posso passear, posso estudar, posso fazer o que eu quiser, desde que ele esteja lá na minha bolsa. É uma coisa maravilhosa demais.  Com certeza é o melhor tratamento que eu já fiz e eu espero nunca deixá-lo, uma coisa que eu tinha medo era de parar de receber carinho das enfermeiras e principalmente da Paula, mas, sinceramente, o carinho é igual vindo da Paula e das médicas. Ufa!

Ainda que a Paula tenha pesquisado métodos pra não doer o local e as enfermeiras tenham tido tanta preocupação comigo, me livrar das injeções é tão, tão, tão, ah, wonderful world...
Mas é claro que o que importa não é o alívio que sinto por me livrar das agulhas, o importante mesmo é controlar a doença e isso é cena pra próximos capítulos. Capítulos que só virão depois de novas Ressonâncias...

Beijos pra todos e todas, acordem o Billie Joe que "September Ended"

Ps: curiosamente completo o primeiro trimestre bem no mês da independência. Não pode ser coincidência....

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Acompanhar por amar

Sei que o título é ruim, mas vale a pena ler o que escrevi com tanto carinho pra vocês... Julio deu espaço e me deixou desabafar um pouquinho com vocês.

Acompanhar nas consultas, nas pulsoterapias, nos locais de exames, nas filas pra marcar o exame, empurrando cadeira de rodas, segurando a mão pra não cair, socorrendo em momentos de surto, aplicando as injeções ou lembrando o horário do remédio, tudo isso faz parte da minha rotina de acompanhante. Mas o que é um acompanhante?

Nunca parei pra pensar o que era um acompanhante e qual o seu papel até o dia em que comecei a namorar com Julio. Até aquele dia só ouvia falar em acompanhante, mas não sabia ser. Foi então que tive que descobrir na prática o que era ser acompanhante, acompanhante é a pessoa que é paciente. Na época as pessoas me olhavam diferente, às vezes chegavam até a dizer que "eu sou uma menina muito nova pra ficar andando em hospital”, “que isso de cuidar do Julio não é pra mim, porque eu não sou culpada por ele estar doente”, “quem tem que acompanhar ele é a mãe dele, tu não é obrigada a ficar andando pra cima e pra baixo com ele” e, pasmem, ouvia todos esses "conselhos" no hospital. 
Mas, peraí existe alguém que seja culpado por outra ter Esclerose Múltipla? Será que é só isso? Acompanhante é só alguém velho que cuida porque o doente é da família? Será? Acho que agora preciso contar nossa história pra vocês: 

Em 2012 eu me achava muito feia, então, postei uma foto no facebook só pra ver se alguém me achava bonita. Postei a foto num grupo e vários comentários surgiram, dentre eles havia um rapaz que estudava e dava aula de tecido acrobático na Universidade Federal do Amazonas, esse cara não era o Julio. Mesmo morrendo de medo, marquei um encontro com ele e fui na data marcada. Mas não no horário marcado, cheguei com algumas horas de antecedência. Fiquei conversando com pessoas aleatórias pela universidade. Sentada na parada de ônibus conversando com um casal, fui ajeitar meu cabelo e ao virar o rosto vi um rapaz moreno, bonito, magro, alto caminhar na direção da parada de ônibus. Fiquei encantada por ver um homem tão bonito, decidi que precisava falar com ele. Levantei em um salto e ele passou por mim direto, dei passos rápidos pra alcançá-lo e, então, puxei o braço dele (TÔ NEM AÍ, PUXEI MESMO). Iniciei uma conversa muito boba, mas no fim consegui adicionar ele no facebook e ainda consegui o número dos dois telefones dele. Então, naquele dia 3 de setembro de 2012 eu me apaixonei à primeira vista, pela primeira vez. Infelizmente, Julio namorava na época e eu também.

Conversamos durante muito tempo até que ele finalmente começou a dar sinais de que tinha interesses a mais. Em junho de 2013 nos beijamos pela primeira vez e foi mágico, fiquei dias rindo sozinha e relembrando aquele momento. Em setembro-outubro do mesmo ano (2013) mandei mensagem pra ele, mas ele não lembrava mais de mim. Chorei por muito tempo e desisti de ficar com ele. Em janeiro de 2014 por problemas familiares eu precisaria me casar às pressas com um namorado que tive em 2012, época que conheci Julio. Estava tudo pronto pro meu casamento, seria coisa simples. Até que Júlio me manda mensagem e depois de longas horas de conversa ele me pede em namoro, Julio estava solteiro desde 2013 e eu não tinha me contado. Na hora eu neguei porque eu estava noiva e me casaria em pouquíssimo tempo. Parei e pensei em tudo que imaginei viver com o Julio, eu jogaria tudo fora por um casamento que eu nem queria? Óbvio que não, então, aceitei o pedido do Julio.

Aceitei namorá-lo no dia 24 de fevereiro de 2014, mas só encontrei com ele 2 dias depois. Achava que a HIStória de ele ter Esclerose Múltipla, na verdade, era EStória, até que o vi recebendo a medicação pela primeira vez. Achei que era encenação. Até que ele me chamou pra acompanhá-lo pra uma tal de pulsoterapia, nunca havia ouvido falar naquilo em toda a minha curta vida. Na época, tudo o que eu sabia sobre a Esclerose Múltipla era que “quando queremos pegar uma caneta enviamos a informação pro nosso cérebro através de impulsos elétricos, esses impulsos são enviados através do axônio e os mesmos impulsos elétricos só se mantém nele e realizam as sinapses por causa de um negócio chamado mielina, quando essa mielina está danificada, as informações não tem tanta qualidade, então, ou você demora a pegar a caneta ou você não vai pegá-la. Na esclerose múltipla é isso que acontece, os neurônios agem em tempos diferentes”. Comecei a perceber que Julio não estava mentindo e quando eu finalmente me convenci disso, decidi que passaria o que fosse necessário pra acompanhá-lo sempre nos tratamentos.

Eu era uma garota de 17 anos que esperava ansiosamente que os 5 meses que viriam passassem bem rápido pra eu completar meus tão sonhados 18 anos. Por que eu queria isso? Porque as pessoas agiam como se eu não soubesse nada a respeito da doença, ignoravam informações que eu dava ou qualquer ajuda que eu oferecesse. "Porque só adultos sabem das coisas". Mês passado foi para o 2º Encontro de Pacientes e Blogueiros de Esclerose Múltipla, lá ouvi pela primeira vez a expressão "Paciente 2.0" que é aquele paciente que pesquisa e participar na decisão do tratamento. Me surgiu lá a expressão "Acompanhante 2.0" que é a mesma coisa, mas a pesquisa e a participação são de ângulos diferentes do de um portador. Duas coisas engraçadas que aconteceram e vale a pena contar aqui: 

1) Julio não estava respondendo bem ao Interferon Beta 1-b, mandamos mensagem pra médica e ela informou que mudaria o medicamento. Não falou pra qual mudaria. Como desde junho do ano anterior (2014) acompanho o blog Esclerose Múltipla e Eu, sempre lia os comentários e, por isso, estava cheia de informações. Via sempre pessoas comentando remédios e comecei a pesquisar as bulas dos remédios comentados e ver as possibilidades do Julio um dia administrá-los. Quando a médica falou que mudaria eu disse logo "vai ser o Copaxone". O problema disso é que o Copaxone é injetável diariamente e alguns familiares do Ju tinham recebido a informação que o "remédio oral" já estava disponível pelo SUS, e por que pensar que vai ser injetável se o remédio oral é bem mais prático, né?! Mas eu sabia que o "remédio oral" não era pra qualquer um e não conseguiríamos tão fácil assim. Ao discordar e falar que o próximo, provavelmente, seria o Copaxone ouvi um coral de "CALA A BOCA QUE TU NÃO É MÉDICA", desse jeito e com essas palavras que ecoam até agora na minha cabeça. Me calei e fiquei com os olhos marejados. Na segunda-feira fomos até o consultório e a notícia veio: Julio passaria a administrar o Copaxone. Eu ri e pensei "quem é mesmo que sabe mais? Posso não ser médica, mas pelo menos eu pesquiso antes de sair mandando os outros calarem a boca, e olha que eu NUNCA mando pessoas calarem a boca". Quer saber como eu me senti? Exatamente assim:


2) Julio foi parar em uma clínica naturalista. Mais uma vez o desrespeito ao acompanhante jovem reinava. A mulher nos tratava como completos ignorantes, principalmente a mim. Pra quem não sabe, eu não sou graduada, e inclusive ela sempre jogava isso na minha cara, mas adoro pesquisar sobre TUDO, principalmente o desconhecido. Sempre gostei muito de conhecer coisas novas e acho que minha vida é feita disso, buscar coisas novas. Chegamos na clínica e a dona de lá "sabia de tudo", mas as terapias não faziam sentido nenhum e Julio sempre me questionava pra quê funcionavam as terapias. Tínhamos muitos "por ques" e poucos "porques", como eu costumo dizer. No terceiro dia decidimos perguntar o que era Esclerose Múltipla na visão de um naturalista, isso porque tínhamos lido que cada tratamento alternativo tinha uma visão sobre a doença e queríamos saber a visão dela. Sabem qual foi a resposta dela? Que "essa menina só quer palco". Saí furiosa, como ela recebe pra tratar uma doença que ela nem sabe o que é? Acreditem, ela espalhou pra meio mundo que a bruxa nessa história sou eu, mas pra minha felicidade Julio gravou toda a situação e ouvindo dá pra notar como a mulher me tratava com arrogância me humilhando o máximo que desse. 

Já passei por poucas e boas pelo Julio. Será que eu aos meus olhos acompanhar é uma obrigação? Ninguém pergunta “Você ama esse rapaz?”, todo mundo acha mais fácil perguntar “Você é irmã dele? Você é da família?”. As pessoas se admiram quando digo minha idade, felizmente agora já tenho 19 anos, mas por que essa admiração? Acho que deveriam ensinar as pessoas a serem um pouco mais amáveis e menos julgadoras. Lembro da minha mãe dizendo que quando tinha 14 anos sempre ia em asilos cuidar de velhinhos por puro prazer.

Acho que se as pessoas entendessem de uma vez por todas que acompanhar é mais ato de amor, do que de cumprir uma obrigação, elas entenderiam porque eu faço questão de ficar com o Julio passando pelo que quer que seja. Se é pra empurrar cadeira de rodas, faço isso e ainda ajudo ele a fazer piadas, porque juntos nós passaremos por isso. Se for uma incontinência, qualquer que seja, ajudo ele e ainda ajudo a fazer piada, porque nós podemos juntos tentar buscar uma forma pra diminuir os acidentes desagradáveis, afinal quando um Acompanhante 2.0 se une ao Paciente 2.0 e tocam o barco dá nisso, diversão sempre. É por isso que eu e Julio não nos largamos nunca, é porque #JuntosSomosMaisFortes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Yes, we can!

Sabe de uma coisa? Um detalhe que tenho em mim é que muitas vezes gosto de tentar superar alguns desafios, principalmente em mim mesmo, apesar de outras tantas vezes a E.M. me convencer a nem tentar. [não pensem que isso é como se fosse um mero texto de autoajuda, apesar de na prática parecer com isso mesmo. Mas continue lendo aí, vai]. Na maioria das vezes que penso em fazer uma coisa que provavelmente me cansaria bastante e quiçá minha esclerose múltipla me impossibilitaria de fazê-la (como ter que levantar da cama, por exemplo), eu faço o seguinte: penso “ah é, seu cérebro esburacado? [sério, não deve haver xingamento pior pra um cérebro, o meu sabe como é ser assim] Tu pensas que és mais forte do que eu, é? bora ver quem é que manda", aí me encho de coragem e vou dormir uso todas as minhas forças pra começar a fazer o início da coisa que eu queria fazer desde o início. 

Pra mim, na verdade, geralmente basta começar. Depois disso eu penso simplesmente “vc não veio de tão longe pra chegar até aqui e desistir, veio?!  eita, até que estou conseguindo, valeu cérebro!”



Na verdade, de uns tempos pra cá, fazendo sempre isso, minha disposição tem sido inimaginavelmente alta pra uma pessoa com EM, eu suponho. Tanto que hoje em dia, dificilmente acordo depois das 3 da manhã pra me arrumar e sair, pegando os primeiros ônibus do dia, pra não pegar engarrafamento. 

E o que é o cansaço? E a fadiga? Nessas horas, quando tento fazer dessas dificuldades algo como o que os outros a princípio pensam da Esclerose Múltipla (frescura e preguiça), tento me convencer de que isso seja o que acontece. Mas eu sei que não é assim. Felizmente já faz algum tempo que não tenho surtos, então tudo pra mim parece cor-de-rosa muito mais fácil do que normalmente pode ser pra quem tem EM ou está em surto.

Na verdade acho que a Esclerose Múltipla é isso mesmo: uma luta contra si próprio. Não é à toa que é chamada de doença autoimune, ou autoimunitária, como diz o dr. Cícero Coimbra. Mas é preciso estar ciente disso e tentar levar essa briga na esportiva, por mais inaceitável que isso possa parecer, sem contar que ninguém ganha todas as batalhas em qualquer coisa, nem mesmo o Usain Bolt, nem Cézar Cielo, nem zzz… Acho que já me fiz entender, né?

Enfim, não sei como vocês, com ou sem esclerose múltipla, fazem para vencer obstáculos que algumas vezes parecem intransponíveis, mas acima de tudo acho que é importantíssimo conhecer a si próprio, afinal assim você sabe que táticas funcionariam com você para coisas que pareceriam impossíveis de fazer.

E você? Como faz?

sábado, 5 de setembro de 2015

Desventura em série [Parte 3 de 3]: Fazer valer, por Paula Jaqueline

Bem, minha companheira escreveu um texto lindo e depois, por puro doce, apagou, mas como sei utilizar ctrl z, vou publicá-lo mesmo assim. Mesmo ela dizendo que não me deu autorização para fazê-lo. Como eu sei que ela não vai ficar com raiva de verdade? Ora, tá na cara que todo mundo vai ver que ela escreve muito melhor do que eu...

Olá, amigos! A terceira parte dessa trilogia será escrita por mim, Paula Jaqueline, espero que gostem.

Já fazia uns meses que tínhamos percebido que algumas pessoas usavam coisas do blog pra vida. Usavam, por exemplo, a postagem Transforme o stress em bem-estar para adicionar atividades à rotina ou, ainda, mudar a rotina para hábitos um pouco mais saudáveis (geralmente, pessoas que não dormiam pra passar a noite estudando). Foi então, que começamos a escrever coisas de utilidade pública do mundo esclerosado como, por exemplo, a postagem Posso Ajudar?. Depois do convite feito pela Bruna, percebi que o trabalho do Julio (ou, ainda, nosso trabalho) ia além de escrever coisas da vida do Julio.

No dia 2 de agosto cheguei do trabalho e me deitei no sofá, esperando o Julio chegar da casa da mãe dele. A casa estava vazia, só eu estava sentada no sofá olhando pros lados e pensando o que eu poderia fazer. Peguei um caderno e comecei a escrever ideias que vinham a minha cabeça para criar um evento de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. Achei que seria interessante pra que as pessoas entendessem de uma vez por todas que não é contagioso, não é só uma desculpa, não é uma invenção, não é psicológico, não tem prevenção e que cada portador reage diferente frente a determinado tratamento. Vi que as pessoas precisam se livrar dessas bobagens que estão entranhadas na cabeça. Liguei pro Julio empolgadíssima, contei minha ideia e ele reprovou, porque não daria tempo, porque ninguém ia participar, porque não daria certo, porque não tínhamos dinheiro. Ignorei. Mandei mensagem pro meu ex-namorado que agora faz (bio?)medicina, contei pra ele e ele adorou a ideia. Durante vários dias organizava tudo com ele. Até que desisti.

Na correria nossa de cada dia, o evento não caiu no esquecimento como imaginava que aconteceria. Julio percebeu que poderia dar certo e começou a me animar novamente a realizar o evento. Fomos pro 2º Encontro de Blogueiros apenas com uma faísca de vontade de fazer o evento aqui em Manaus. A cada minuto de evento lá em São Paulo, percebíamos que precisávamos mesmo fazer um aqui em Manaus. Voltamos incendiados de vontade de fazer o evento. Em 4 dias chamamos quem achamos que iria, fizemos convites em vídeo com a ajuda de outras blogueiras. Olhando o que tínhamos pronto percebemos que precisaríamos de alguma lembrancinha, então compramos o material pra fazer o laço. Julio caminhou muito comigo atrás do material, ele chegou em casa muito cansado. Pra quem sobrou a tarefa de fazer os laços? Pois é. Passei a noite do dia 27 com uma pistola de cola quente em mãos e vários pedaços de fita esperando a cola para ganharem um novo formato, uma nova utilidade, um novo significado. Me queimei incontáveis vezes, mas no dia 28 estavam lá os laços prontinhos. Eu consegui.

Chegou a hora do evento e eu estava arrumada, mas não empolgada. Na última hora eu não queria mais ir, quis ligar pra todo mundo e dizer que não ia mais ter evento nenhum. Julio conseguiu me convencer a ir e participar. Eu levei Richard comigo, meu amigo completamente leigo em relação a Esclerose Múltipla. 

Já estava na hora do início do evento, mas a médica ainda não havia chegado, então, os portadores ficaram conversando, contando experiências, dando dicas de como eles melhoraram determinada coisa. Foi muito bacana ver ali tanta gente reunida. Além dos portadores, existiam ainda os acompanhantes que estavam em quantidade maior. Estavam presentes também os amigos leigos que convidamos. Em pouco tempo a médica dele chegou e deu a palestra, muito profissional explicou o que era a doença, quais os tipos, os tratamentos disponíveis e tudo o mais que houvesse de dúvidas.

Terminado o evento nos parabenizaram pelo sucesso que foi. Cerca de 30 pessoas presentes, fiquei feliz. Pra um evento organizado em uns 4 dias, 30 pessoas parecia satisfatório. Cada qual ficou ali pelo seu canto conversando com conhecidos ou ampliando o círculo de amizade. Todos saíram. Eu, Julio e meu amigo começamos a caminhar pra parada de ônibus e foi ali que vimos que o evento valeu a pena. Uma das coisas que o Gustavo San Martin, fundador da AME, mandou pro Julio como uma forma de incentivo é que pro evento ser um sucesso basta que uma pessoa vá e aprenda, se isso acontecer o evento valeu a pena. E pra gente, valeu a pena. 

Richard aprendeu que "a doença é a mesma, mas ela se manifesta de forma diferente em cada portador. Por exemplo, um dos portadores não sentia mais o corpo do pescoço pra baixo, outro só no braço, outro na perna esquerda, outro na perna direita e o Julio não teve". Outra coisa que ele observou é que "não dá pra fazer diagnóstico em grupo e que é perigoso uma médica receitar algo na frente de outros portadores, porque alguém pode se 'identificar' e querer fazer uso sem fazer a consulta direitinho". Ele também entendeu o que é a Esclerose Múltipla e como faz pra descobrir se é mesmo Esclerose Múltipla, aprendeu que não existe prevenção. Ele aprendeu que existem doenças muito parecidas com a Esclerose Múltipla. Uma pena que ele não tenha feito um vídeo gravando tudo o que ele disse.

Foi o nosso primeiro evento, primeiro de muitos. Já estamos organizando outro. Já temos amigos que estão dispostos a se juntar a causa e ficamos muito felizes por isso. Com o desejo de fazer mais pela vida de portadores de esclerose múltipla manauaras estamos criando ideias incríveis que estão se aperfeiçoando a cada dia. Mas é claro que os nossos projetos não acabam por aqui. Isso, ainda, é só o começo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Desventuras em série [Parte 2 de 3]: EM Curso

A primeira postagem desta série trilógica que estou contando foi sobre tudo relacionado ao período pré-viagem. Hoje vou contar sobre como foram meus dias em São Paulo, bem como a viagem em si, espero que fique legal o texto. Opinem.

Logo que chegamos em São Paulo, na sala de desembarque estava a Priscila e seu marido, duas pessoas extremamente gentis. Na verdade a Priscila estava segurando uma plaquinha escrito "Ssúde"e me deu vontade de saber imitar um espirro pra chegar lá, espirrar e agradecer, mas deixei pra lá por saber que provavelmente não seria muito legal ou engraçado. Mas me deu vontade de contar agora, atualizando a postagem, só por ter lembrado #meprocessem. Ela se mostrou muito preocupada comigo quanto a eu andar, subir escadas, cansar e tudo o mais. Foi a primeira vez que recebi um tratamento tão magnífico assim na vida, até onde eu me lembre. Ainda que minha memória não queira dizer grande coisa, até porque, convenhamos né. Tenho esclerose. Múltipla, ainda por cima, como vocês bem sabem.

Enfim, o caminho até o hotel, bem como todos os outros traslados subsequentes, foi agradabilíssimo, nossos anfitriões sempre nos contando curiosidades por onde quer que passássemos sobre os lugares e histórias relacionadas a estes. Ao chegar no hotel, ficamos maravilhados com a qualidade do local, sem contar com o atendimento, deixamos até bilhetinhos agradecendo pelo atendimento incrível. Vimos até um ator que eu conhecia desde a novela "Chocolate com Pimenta", mas não sabia o nome dele, só que seu papel era do Calisto.

Eu, Pedro Paulo Rangel e a Paula.

A janta naquele dia foi magnífica, bem como todas as vezes em que comemos por lá. Aquele hotel era esplêndido demais. Mas vamos por partes.

Na noite do dia 21, outros blogueiros também começaram a chegar ao hotel, tivemos o prazer de ver grande parte da chegada deles. Estávamos jantando quando vimos Rodrigo Drubi chegar, inicialmente ele aparentava estar muito mal, quase não conseguia andar, mas felizmente com o passar dos dias ele melhorou visivelmente. Vimos também o Nando Bolognesi chegar, mas faltava quem queríamos tanto encontrar. E ela chegou, tooooooda sorridente e dando um "tchauzinho" pra chamar a atenção como quem diz "hey! Tô aqui". E ela entrou no saguão do hotel, era a Bruna Rocha Silveira e o Jota (que mais tarde descobri que seu nome era uma piada pronta, por isso prefiro nem contar aqui pra manter o suspense ou fazê-los ir procurar no blog da Bruna). A Paula quase teve um piripaque de tanta animação por encontrar com a Bruna. Tiramos fotos com ela, com o jota, com o Nando, com a Cynthia Macedo, com a Bete Tezine...

Jota (Jaime), Bruna, Paula e Eu.
Assim que ela chegou falamos com ela, tiramos fotos, a convidamos pra ser madrinha do nosso casamento. Depois subimos e nos preparamos pra dormir e eles foram jantar. Na verdade, por mim, ficaríamos muito mais tempo com eles lá, mas estávamos muito exaustos depois do dia cansativo que tivemos, ainda mais eu, que tenho escl... ah, vocês entenderam, vai. No dia seguinte deveríamos estar acordados às 8h [no horário de São Paulo] e meu relógio e o da Paula ainda estavam com o horário de Manaus. Acordamos quase atrasados, fomos tomar banho. A água que saia do chuveiro só tinha duas possibilidades de temperatura. Opção 1: Tirando o couro. Opção 2: Você vai morrer dentro de uma pedra de gelo. Com essas maravilhosas opções ficávamos desligando e ligando o chuveiro em temperaturas alternadas, até que eu fui lavar minhas mãos e percebi que com paciência dá pra deixar a água morna. UFA! Tomamos o café e partimos rumo ao 2º Encontro de Pacientes e Blogueiros de Esclerose Múltipla.

Nando Bolognesi durante apresentação da peça "Se fosse fácil não teria graça"

O evento foi incrível, conhecemos pessoas super gentis e dispostas a compartilhar suas histórias conosco, assim como nós estávamos dispostos a compartilhar nossas histórias. Foi lindo demais ver quanta gente estava ali reunida por uma só causa, envolvidas em um só laço, mas especificamente laranja. Meu suco favorito, aliás (desculpem a divagação). Muitos pacientes, familiares e companheiros/cônjuges estavam ali para prestigiar um evento incrível com uma apresentação maravilhosa do Nando Bolognesi. Estavam ali pra aprender mais, desmitificarem e aprenderem sobre eles mesmos (às vezes, não nos conhecemos tão bem, precisamos de ajuda). A seguir, foto de todas as pessoas que foram participar do primeiro dia de evento: 

E isso foi só o começo.
A peça de início foi linda e a Paula até chorou no final. Finalizada a peça, iniciam-se as palestras. Amei todas, mas três me chamaram a atenção.

PALESTRA 1: "Apoio psicológico na Esclerose Múltipla"
Achei o tema incrível e muito bem abordado. A palestrante Maria Fernanda Acha do Hospital Albert Einstein falou coisas que eu já sabia, por causa da Paula que já tinha me explicado e outras coisas novas, tanto pra mim quanto pra Paula. Mas pra quem acompanha meu blog, já deve ter notado que eu sempre falo "eu tenho Esclerose. Múltipla, ainda por cima.". Quem acompanha o blog sabe que isso é uma espécie de bordão meu. E o que aconteceu? Aaaah, a palestrante pega e começa a falar de um exemplo: "Aí eu tenho 22 anos, tô começando minha vida agora, acabei de me casar, sai da casa da minha mãe. Tá tudo 'ok' e eu descubro que tenho esclerose. Múltipla, ainda por cima". Gente, GEEENTE, ela roubou meu bordão na cara de pau e não deu nem uma piscadinha pra mim como quem diz "curti muito teu bordão, gato" :O
Eu e a Paula nos entreolhamos e rimos, depois nos perguntamos: mas como assim ela tá usando uma frase tua? Cadê meus direitos autorais? Tudo bem, deixei passar só pelo falo de sua palestra ter sido ótima.

PALESTRA 2 e 3: "Acesso ao tratamento da Esclerose Múltipla no Brasil" e "Direitos do Paciente com Esclerose Múltipla"
Ambas as palestras foram ministradas pelo mesmo palestrante - Marco Aurélio Toronteguy. Não me lembro bem as coisas que ele falou, mas foi tão interessante que eu estava acordadaço, mesmo tendo quase cochilado nas duas palestras que antecederam às mesmas. Algumas coisas que ele falou e que achei importantíssimas diziam respeito aos direitos do portador que se dividem em três: 1º. Direitos decorrentes do diagnóstico 2º. Direitos que dependem de prova de deficiência ou condição 3º. Direitos a serem conquistados.
Pra vocês terem ideia, o Marco apareceu lá sem qualquer papel, era ele e a mente dele. Uma senhora subiu lá onde ele estava só pra dar "uma verificadinha" e necas, nada de papel pra ele "ter como colar". Então, depois da palestra, eu e a Paula fomos parabenizá-lo pela incrível palestra que foi dada. E aí vem a surpresa...

Chegamos com ele:
eu: "Oi, você que é o Marco?! Nossa, parabéns, pela sua palestra!"
ele: "Você é...?", deu uma olhadinha no meu crachá e continuou a frase "Ah, você que é o Julio? Do EM Superação? Nossa, cara, eu acompanho teu blog"
nós: "Sério?"
ele: "eu estava falando contigo pelo facebook"
Foi só aí que caiu a nossa ficha. Alguns dias antes do evento um rapaz chamado "Marco Toronteguy" havia me mandado solicitação de amizade no facebook e começou a conversar comigo, isso porque ele leu meu blog e gostou. Disse que estaria no evento e esperaria nossa presença. Durante todo o evento fiquei esperando esse leitor, jamais imaginei que o leitor seria um palestrante. Fiquei muitíssimo impressionado com o fato de ter um fã tão ilustre. Na hora da foto, propus que ele ficasse no meio ao que ele disse "cara, aqui eu que sou seu fã". E a foto ficou assim:

Na imagem, Marco Toronteguy, eu e a Paula.
Ficamos meio tristes por não ganharmos o livro "Um palhaço na boca do vulcão" do Nando Bolognesi, mas continuamos super felizes e extasiados pela felicidade que era estar ali, dando voz e rostos às palavras de tantos blogs. Fomos até o Gustavo San Martin, fundador da AME, para falar sobre o evento que passamos a pensar fazer aqui em Manaus no dia 28 de agosto. Adivinhem o que o Gustavo fez? Ele deu ME DEU um exemplar do livro "Um palhaço na boca do vulcão", então pedi pra que ele e depois a Bruna fizessem dedicatórias, tipo quando presenteamos alguém e assinamos só pra pessoa lembrar o quanto especial somos :D

Jantamos em uma mesa gigantesca com todos os blogueiros e alguns outros convidados, como por exemplo, o Marco e sua família (esposa e mãe). Foi muito divertido poder compartilhar histórias com eles, contar até algumas curiosidades de Manaus, tipo porque que o centro manauara é desse jeito, parecido com Paris. Contamos a explicação cultural sobre a separação das águas no encontro dos rios Negro e Solimões. Foi muito agradável o jantar. Paula tomou cerveja e eu preferi não beber. Ah, quase deixei passar: antes do jantar descobri que o Jota, na verdade, se chama Jaime. Claro que Não pude deixar de lembrar do Jaiminho:


No segundo dia, que reuniu apenas blogueiros e associações, uma moça do Ministério da Saúde foi palestrar. Era um evento pra "profissionalizar" os blogueiros. Antes de iniciar a palestra da Priscila e da Bruna, elas deram um tempinho pra cada blogueiro falar sobre seu blog, espero que tenham gostado da apresentação do meu blog. As pessoas ficaram rindo de mim e... e... isso é bom?! Se for estou mó feliz. Terminadas as apresentações a Bruna e a Priscila falaram sobre a importância do blogueiro como formador de opinião e a responsabilidade que temos sobre as coisas que escrevemos, daí a importância de sempre analisarmos as palavras que usamos por aqui. Aprendemos com o Mauricio Grilli, com um outro carinha da UOL e uma moça chamada Érica, que devemos fazer muitas pesquisas, se o assunto não for uma experiência pessoal; deixar sempre claro que as experiências passadas são minhas e não devem ser adotadas como rotina, caso queira deve-se consultar um médico; Aprendemos também que podemos fazer publicidade de um jeito super atraente, divertindo as pessoas; Aprendemos também que somos muito mais do que registradores de memórias, em algum lugar existe alguém que lê esse texto e interpreta de um jeito único, seja encorajando-a a encarar a doença de um jeito cômico ou, ainda, encorajando-a a escrever suas experiências; 

Teve uma coisa super engraçada que aconteceu antes da última palestra: eu e Paula voltamos de um intervalo e quando chegamos na sala e estávamos quase sentando pra assistirmos as últimas palestras, um dos palhaços que estavam presentes nos chamaram, segue o dialógo:
ele: Hey, pessoal de Manaus[ganhamos esse apelido carinhoso, deixamos de ser Júlio e Paula para sermos "pessoal de Manaus", como éramos chamados inúmeras vezes]! Olha só o que fizemos em homenagem à vocês! :D
Mostraram uma cobra gigantesca feita com bexiga.
Paula: Aí que linda :D eu quero ela...
ele: Ah, mas vai ser sorteio! [risos]
Paula: Ah, eu queria ganhar a Celeste! :(
ele: Celeste? Quem é Celeste?
Paula: Celeste é o nome da cobra do Castelo Rá-tim-bum...
ele: Ah! Tá bom, vai! Ganhou a cobra :D
Aí uma palhacinha entra e fala: Não! Vamos fingir que é um sorteio, ta bom? Quando ele perguntar "Qual é o nome da cobra?" vocês gritam "Celeste".
E o que aconteceu?

Ganhar a cobra foi fácil. Difícil é descobrir o que é mais falso: meu sorriso ou a cobra?

A última palestra foi sobre otimização e relevância do site. Assumo que fiquei um pouco desapontado, porque já sou formado em Ciência da Computação, com ênfase justamente em Recuperação de Informação (a área que trata dessas coisas de máquinas de busca e pode ajudar a melhorar as relevâncias das páginas para as máquinas de busca) e eu já sabia de praticamente todas aquelas coisas. Não foi acrescentado nada de novo :( Mas foi bom relembrar algumas coisas e foi ainda melhor porque a Paula estava lá pra aprender e colocar em prática depois dali essas coisas todas.

Uma coisa que considero terrível é que os celulares descarregaram e não tínhamos como carregá-los, ou seja, não gravei ou registrei nada. As fotos que eu tenho foram registradas por outras pessoas.

Esse é um dos momentos que estávamos fazendo exercício e ele me chamou.
Depois da última palestra fizemos uns exercícios com o médico da alegria e cantamos várias músicas. As lágrimas da saudade já começavam a rolar por ali mesmo. Era a tristeza de ver a efemeridade da alegria que nos tomou de forma tão sublime, mas se foi tão logo que anunciou sua chegada. Era um adeus aos amigos que fizemos e que sentiremos saudades... Que esperaremos em um próximo encontro e que até lá ficarei revivendo e relembrando cada um. Guardei todos os momentos bem conservados para que eu possa revivê-los todos os finais de semana.

Viu quanta gente linda? Ué?! Por que meus olhos estão assim?!
Depois de nos despedirmos, fomos passear com uma moça linda e incrível, Marina Mafra, escritora do blog Diário da Esclerosada. Conversamos sobre muitas coisas,  a Paula contou sobre um blog que ela fez chamado "Do lado de Cá" onde conta as coisas da visão dela de acompanhante. Ela fez esse blog porque eu tive um surto em dezembro e não tinha ninguém pra dizer "Calma, vai dar tudo certo". Quem é portador, com facilidade encontra blog de portador, mas acompanhante encontrar de acompanhante é bem difícil. Então, ela decidiu compartilhar isso, mas logo desistiu. Paula tem um negócio de achar que os textos dela são ruins. A Marina achou a ideia linda e abriu espaço pro acompanhante dela abrir o coração numa postagem linda, acompanhem clicando AQUI.

Passeamos por vários lugares e foi incrível conhecer um pouco mais sobre São Paulo, foi engraçado ela falando sobre a Catedral da Sé. Eu e Paula nos divertimos muito. Fomos em uma lanchonete na Mooca e o quê que tinha lá? Açaí :D a Paula ADORA açaí, então ela pediu um natural. Mas, meus amigos, é barra descobrir com a experiência que o que é "natural" pro outro pode não ser pra mim. Paula descobriu na prática. Ela pediu um açaí natural e ficou ali esperando ansiosissíma. Quando veio o "açaí natural" a Paula toma o maior susto, o açaí estava SUUUUPER doce. Aquilo poderia até ser açaí, mas não natural. A Mari ficou toda sem jeito e a Paula pediu desculpas pela reação, mas aqui na nossa região açaí não é daquele jeito cheio de mistura. Paula pediu um milhão de desculpas e espero que a Mari tenha aceitado :(

Todo mundo com fome esperando a comida.
Imgem: Marina Mafra/ Diário da Esclerosada
Eu e Paula voltamos pro Hotel e eles, a Mari e o Zé, foram pra casa deles. No hotel jantamos com a Priscila, o esposo dela e mais uma moça linda que é amiga e companheira da Priscila. Fomos dormir. Ah! Lembram que tínhamos esquecido os carregadores dos celulares? Pois é, a Priscila deu um carregador portátil que ela tinha. Fiquei com o coração partido. Juro que preferia pagar. Ela fez tanto por nós durante todos os dias que estivemos por lá...

Acordamos no dia 24 e fizemos nossa refeição matinal. Fizemos o check-out e pedimos informações de como fazer pra chegar ao parque Ibirapuera a pé. A Paula então começou:
ela: Moço, o caminho pro Ibirapuera é saindo do hotel dobra pra esquerda, vai até o final da rua e dobra pra esquerda de novo. E vai sempre pra frente... e pra frente... e pra frente... É isso?
ele: E pra frente... e pra frente e roda o mundo, porque o caminho pro Ibirapuera é saindo daqui pro lado direito e não pro lado esquerdo. [risos de todos]
ela: Ah! Agora entendi. Vem, Julio. Tá comigo, tá com Deus. Eu sei o que fazer. Sou especialista nisso. 
eu: Tu falou isso quando deixou a cera no meu queixo.
Nesse momento contei pro recepcionistas que a Paula já deixou cera no meu queixo, quando foi tirar minha barba com cera; e que ela já cortou um pouquinho meu pomo de Adão, quando estava tirando minha barba com tesoura; O cara ficou com dó de mim e deu pra ela um mapa e, só pra se assegurar que tudo ficaria bem, deu também um cartãozinho do hotel pra ligarmos caso não encontrássemos o caminho de ida ou de volta. Gente? Não é que a Paula conseguiu me levar ao Ibirapuera?! Tiramos até foto lá:

Eu e a Paula em um passeio no Parque Ibirapuera.
E passeamos por lá, mesmo estando super frio. Vimos um peixe laranja, muito lindo. Pena que meu celular havia descarregado. Naquele dia almoçamos perto do Ibirapuera e voltamos ao hotel. O cunhado da Priscila foi nos buscar para nos levar ao aeroporto e achamos ele muito legal, bem como todas as outras pessoas que conhecemos durante esta viagem. Ele é engraçado. Contou histórias sobre os lugares onde passamos, histórias que pra mim eram inéditas. Então, às 20:05 entramos no avião e estávamos prontos pra decolar, quando o piloto avisa: "blá blá blá blá blá blá, em Manaus 19:05 e fazem 33º". Eu e a Paula quase gritamos "Hey, eu tô indo é pra Manaus e não pro inferno. Abre essa porta que queremos ficar por aqui mesmo!".

Chegamos em Manaus e o calor nos envolveu como uma abraço quentinho e apertado, como quem diz: "vem cá, que eu senti tua falta!", mas logo senti os ventos noturnos chegarem e levarem o calor da recepção manauara pra bem longe. Fomos pra casa de ônibus e nos deitamos antes da meia-noite. Felizes por chegarmos em casa, mas com saudades dos dias inesquecíveis que tivemos, torcendo todos os dias desde então para voltar no ano que vem.

Agradeço a todos que fizeram parte desses dias incríveis.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Desventuras em Série [parte 1 de 3]: O desespero pr(a/é-) viagem

Sei que estou atrasadíssimo nas postagens, mas a partir de agora vou contar-lhes o que foi que aconteceu nos últimos dias. Você está sentado, leitor? É bom que esteja, porque eu vou lhe contar uma história eletrizante...

Quem acompanha o blog certamente leu "O dia que deixei de ser cético", trata-se do dia em que minha namorada resolveu ler meu horóscopo. Nesse mesmo dia, recebi solicitação de amizade da Bruna e pouco depois ela me convidou para o 2º Encontro de Blogueiros da Saúde. Esse evento ocorreria em São Paulo nos dias 22 e 23 de agosto e seria um evento alusivo ao Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. Reunindo cerca de 21 blogueiros, 8 palestrantes e pacientes convivendo com esclerose múltipla de todo o Brasil. 


Bem, vou contar com o máximo de detalhes do que eu lembrar sobre os dias que antecederam a viagem, os dias do evento e os dias pós-viagem.

Como já disse, a Bruna me adicionou no facebook e me chamou pro evento. Conversamos e tudo o mais até que ela me fez uma encomenda. Aqui em Manaus existe um produto chamado óleo elétrico (que, segundo a própria, é um produto regional daqui da amazônia, quiçá do Amazonas), esse óleo é usado para amenizar algumas dores, uma delas é a enxaqueca. A Bruna me falou que sofre com enxaqueca, e esse óleo sempre a faz melhorar, então pediu pra que eu levasse váááááários vidrinhos.

Passei vários dias pesquisando o valor do tal óleo, mas não comprei porque queria que a Paula estivesse comigo. E onde estava a Paula? Trabalhando e por isso não poderia estar comigo naqueles dias (e não estou falando de menstruação). Passamos vários dias nos organizando pra viagem, pelo menos em nossas cabeças já estava tudo certo, mas nunca chegamos a arrumar as bolsas pra viagem.

Fui pra universidade (UFAM) na quinta-feira como de costume e só depois de sair de lá, dei início a uma peregrinação em busca de óleo elétrico pra Bruna e roupas de frio pra Paula, isso por achar que ia dar tempo deixamos pro último dia possível. Só então me dei conta de que este seria o último dia que eu poderia comprar, já que minha viagem seria dia 21 às 4:05 [incluir cara de desespespanto], ou seja na madrugada seguinte, e em São Paulo me parece que não existe para vender o óleo.

Pois bem, chegou o grande dia (20/08) e absolutamente NADA estava pronto pra viagem do dia 21, mas não me julguem. As coisas pareciam tão simples quando estavam na minha cabeça. Então, fomos a vários lugares durante a manhã procurar roupa de frio pra Paula, como não existe roupa de frio em Manaus, decidi que compraríamos em São Paulo. Faltava apenas o óleo, eu já havia comprado 2 vidros, faltavam "SÓ" 8. Como imaginávamos, foi facílimo encontrar. Nas farmácias onde fomos tinha o óleo e, enfim, completamos os 10 vidrinhos que levaríamos. Olha que engraçado: em Manaus não tem roupa de frio, mas tem óleo elétrico; Em São Paulo não tem óleo elétrico, mas tem roupa de frio.


Saimos de lá,  tranquilos por termos conseguido resolver tudo tão "rápido". Quando olhamos o relógio, já era 16h e eu precisava fazer a barba e ela uma tal de marroquina e arrumar as bolsas. Eu fui com minha mãe pra um salão, isso porque minha mãe estava disposta a pagar pra tirar a barba (o que é algo raro, então eu tinha que aproveitar). Enquanto isso, Paula estava em casa arrumando "TUDO" sozinha. Assim que terminou de se arrumar me ligou avisando que já estava no ônibus, conversamos bastante tempo até que ela se lembrou que esqueceu os carregadores (tanto do celular quanto do computador) em casa. Já era depois das 17h. Ela estava atrasada pro salão e eu estava lá esperando ela chegar, já tinha andando bastante mesmo estando cansado, o que dizer pra ela fazer? Continuar no ônibus, ir ao salão, me encontrar, entregar a chave e aí enquanto ela fazia o negócio no cabelo eu iria em casa e voltaria pra encontrá-la. Esse plano parecia TÃO perfeito...

Começa a execução do plano: Paula chega ao salão, pego as bolsas e vou embora pra deixar guardada na casa da minha mãe. Paula termina de fazer a tal marroquina e fica em uma parada depois da minha, isso porque talvez não desse tempo de ela chegar na parada de ônibus onde eu estava ou de eu chegar até onde ela estava. Não esperávamos imprevistos, não queríamos imprevistos, não pensamos neles. Eu estava ao telefone pra avisar a Paula sobre o ônibus que eu estava, depois de poucos segundos vem surgindo na minha linha do horizonte o meu ônibus e foi aí que aconteceu o inesperado, o ônibus não parou onde eu estava. Simplesmente passou direto. O motorista se fez de egípcia mesmo. O que eu podia fazer? Nada além de dizer pra Paula pegar aquele ônibus e ir pra casa. E ela foi.

Continuamos nos falando no telefone por bastante tempo, mas precisei desligar pra comer. Pouco depois de desligar, Paula me liga. Eu não atendo. Ela liga de novo, atendo pra saber o que é e, então, recebo a notícia: a chave do quarto onde estavam os carregadores estava comigo, só existe UMA chave pra abrir o quarto e essa ÚNICA estava comigo. Não daria mais tempo pra eu ir até lá abrir o quarto e pegar os carregadores. Então, ela voltou pro Shopping onde nos encontraríamos.

Eu e a Paula moramos muito longe do aeroporto, então uma amiga que tem carro e mora mais perto disse que seria melhor que dormíssemos na casa dela pra que saíssemos às 3:00h da sexta-feira pra não correr o risco de perder o voo que sairia às 4:00h. Era 23h da quinta-feira e estávamos prontos pra dormir. Depois de TUDO o que aconteceu estávamos muito cansados e só queríamos dormir pra acordar cedo e viajar. Até que eu percebi que minha carteira não estava comigo e meus documentos estavam todos lá dentro da carteira. Sem a carteira não poderia viajar. Vasculhamos todas as bolsas e nada de achar a carteira. Porque é claro que sempre antes de uma coisa boa tem que acontecer uma avalanche de coisas inesperadas só pra nos deixar sem fôlego e desnorteados. Quase uma hora procurando e nada da carteira aparecer, já estávamos desmotivados e a Paula já estava com os olhos marejados de lágrimas. Até que ela pegou o celular, ligou a lanterna e foi até o carro, colocou a luz em direção ao banco onde eu estava sentado. E o que estava lá? Nada, só o assento mesmo. Aí, ela colocou o foco no assento do lado, bem próximo da porta, e lá estava ela, a minha carteira com TODOS os meus documentos.

Depois do susto, dormimos um pouco mais tranquilos, agora com a certeza de que na manhã seguinte estaríamos em São Paulo.