Pra muita gente hoje é o dia da saudade, lembrar de pessoas que já partiram e que sentimos muita falta. Mas, pra mim hoje é como um dia qualquer, porque é impossível existir um só dia em que eu não sinta saudades da flor mais linda do meu jardim, e eu não podia deixar de fazer um texto sobre ela, minha avó, dona Tereza Oliveira da Silva e seu filho (meu tio) Ricardo Oliveira da Silva.
Fizeram o bem sem olhar a quem e alegraram a vida de muitas pessoas. Não são dois lindos? |
Aquela senhora que todo mundo amava, que se dedicava integralmente a seu filho (portanto, meu tio) de criação, Ricardo Oliveira da Silva.
Foi ela quem mais me deu atenção e carinho na minha família, mesmo provavelmente tendo alguma predileção pelo Ricardo.
Ricardo tinha down, mas era uma pessoa feliz em pelo menos 99% do tempo, sempre brincava, principalmente comigo e tinha um claro amor pela mãe (minha vó). Se não fosse por ele, eu não teria um sentimento de amorosidade por qualquer pessoa com down, pois quando vejo alguém assim, sempre lembro dele x)
A questão principal é que, depois de adulto, ela era a única coisa que eu tinha comigo todo o tempo, principalmente quando eu me sentia sozinho, eu sempre acabava indo ao quarto dela pra ficarmos deitados juntos, eu amava tanto a companhia dela que mesmo sendo ateu eu ia à missa só pra passarmos mais tempo próximos. Eu sempre amei muito fazer carinhos na minha avó. Ela também era quem fazia tudo pra eu comer, mas isso não tem mais tanta importância, o que realmente faz falta na minha vida é tê-la pra abraçar e conversar quando precisasse.
Aliás, ela era mesmo uma pessoa perfeita pra conversar, porque sabia ouvir. Tinha opiniões e as expunha, mas não era bitolada, como outras pessoas que conheço e se julgam sempre donos de toda razão do mundo. E olha que ela tinha 83 anos! Com essa idade, muitas pessoas acham que sabem tudo sobre todas as coisas, mas não a minha avó. Ela nunca teve essa pretensão, mas de fato sabia. Era muito mais pra Sócrates que qualquer outra coisa. Ela foi, de fato, uma sábia.
Pena que há quem não saiba dar o devido crédito a ela. Mas, assim como o Ricardo, era muito difícil alguém que não gostasse dela ou mesmo que ela não gostasse. Tanto que ela foi roubada algumas vezes aqui em casa por pura ingenuidade.
O que mais me lembra minha avó mesmo é uma conversa que tive com ela sobre eu ser ateu:
Ela, sempre católica quase fervorosa, de ir todo domingo à missa, falou a frase que esclerose nenhuma vai tirar da minha cabeça: "Não importa se Deus existe ou não, o importante é o bem que ele faz às pessoas".
Quanto ao Ricardo, apesar de ser meu tio, pra mim era sempre um irmão que cuidava de mim, no início da minha vida, depois eu ajudava a cuidar dele. A morte dele abalou muito a família inteira, principalmente minha mãe, que passou a se rotular como ateia, tão logo que ele se foi. Ela dizia "ele era uma pessoa tão boa e especial pra todos. Como é possível que Deus tivesse permitido ou tirado a vida dele. E sim, sem o Ricardo, a família se desestruturou totalmente, mas principalmente por causa da minha avó que passou a ser muito triste boa parte do tempo.
Me perguntaram hoje se é bom sentir saudades se a gente sofre tanto com isso. Na minha opinião e na da raposa do pequeno príncipe não existe amor sem saudade, e existe algum sentimento mais importante que o amor? Por um parente, amigo, vizinho, enfim... são os momentos que passamos com as pessoas que fazem delas tão importantes, e se realmente for verdade que o presente não existe, nos resta viver com as lembranças de um passado bonito e a esperança de reencontros futuros.
Uma música que me lembra essa sensação de saudades, mais até que "Pedaço de Mim", de Chico Buarque, é "Sonhos", de Caetano Veloso, especialmente nos trechos:
"Vi a minha força amarrada no seu passo. Vi que sem você não há caminho, eu não me acho"
"Saudade até que é bom. É melhor que caminhar vazio"
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